quinta-feira, 19 de maio de 2011

Alimentos ricos em creatina melhoram a performance física?

Em uma simples resposta: sim. Porém, como todo "sim", essa resposta pode ter alguns senões...

Para começo de conversa, devemos lembrar que a creatina é um aminoácido produzido pelo fígado a partir dos aminoácidos glicina, arginina e metionina, sendo esse último essencial (não é produzido pelo organismo e precisa ser ingerido em alimentos). Desta forma, há a necessidade de alimentação rica em proteínas para que o fígado possa gerar nossa própria creatina.

Uma vez formada, a creatina se deposita nos músculos na forma de creatina-fosfato que, por sua vez, funciona como uma espécie de reserva de fosfato para a síntese de ATP de forma anaeróbica (sem o consumo de oxigênio) para os primeiros cinco segundos da atividade muscular. Note que a energia em anaerobiose em todas as células é provida pela quebra da glicose gerando ácido láctico (glicólise) o que pode ser um problema para a célula, pois promove a queda do pH (acidose lactica) e a perda da eficiência das enzimas. No músculo, isso seria uma catástrofe se não fosse o sistema creatina-fosfato que poupa ao músculo a produção do ácido láctico nos primeiros segundos da contração muscular.

No exercício repetitivo contínuo, o músculo acaba por produzir ácido láctico, porém a presença da creatina-fosfato prolonga o surgimento dessa acidose (uma das causas da fadiga muscular). Convém lembrar que a forma mais eficaz de produção de energia de todas as células é o metabolismo aeróbico onde uma certa quantidade de glicose produz próximo a 20 vezes mais energia do que a mesma quantidade no metabolismo anaeróbico. Já deu pra perceber que a na musculatura cardíaca (que não para nunca de contrair) a creatina-fosfato é crucial, além de um constante suprimento de oxigênio para suprimir o aparecimento da fadiga que pode levar à necrose do músculo cardíaco, conhecida como infarto agudo do miocárdio.

Muito bem, desta forma a conclusão de que quanto mais creatina-fosfato no músculo melhor será o desempenho do exercício físico é corretíssima. Só não podemos esquecer que esse efeito é curtíssimo e que se torna importante em trabalhos musculares programados para não sobrecarregar os músculos com esforços repetitivos além da capacidade de oxigenação muscular do atleta levando-o, invariavelmente, à fadiga muscular. Desta forma, a creatina-fosfato é um fator importante no desempenho de atividades físicas anaeróbicas de curta duração (musculação, levantamento de peso, provas de velocidade etc.) e nem tanto durante atividades de longa duração (caminhadas, esportes de resistência etc.). E ainda mais, estudos mostram que esse efeito é importante no treinamento de atletas de alta performance, aqueles que precisam cada segundo extra de energia muscular para superar seus limites, bater recordes e coisas do gênero. A suplementação de creatina parece não alterar a peformance de atletas de provas de resistência.

Para nós, simples mortais que praticamos exercícios como forma de manter a forma ou perder aqueles clássicos 3 kg a mais (que nunca perdemos!), a suplementação alimentar com creatina pode não surtir efeito algum. Pelo contrário, pessoas que possuem problemas renais podem piorar sua condição em virtude do aumento da sobrecarga renal gerada pela alimentação hiperprotéica. Nesse casos, o simples controle da quantidade de proteínas alimentares fornecendo a quantidade média de proteínas adequada para cada indivíduo (cerca de 13% do total energético ingerido) parece ser suficiente para garantir os níveis de creatinina-fosfato musculares dentro dos valores padrões necessários para uma boa performance física. Finalmente, somente se deve ingerir suplementos alimentares para melhorar a performance física com a orientação de profissional habilitado para tal.

Saiba mais:
Gorostiaga EM, Navarro-Amézqueta I, Cusso R, Hellsten Y, Calbet JA, Guerrero M, Granados C, González-Izal M, Ibáñez J, Izquierdo M. Anaerobic energy expenditure and mechanical efficiency during exhaustive leg press exercise. PLoS One. 2010 Oct 19;5(10):e13486.(Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2957441/pdf/pone.0013486.pdf)

Knechtle B, Knechtle P, Mrazek C, Senn O, Rosemann T, Imoberdorf R, Ballmer P. No effect of short-term amino acid supplementation on variables related to skeletal muscle damage in 100 km ultra-runners - a randomized controlled trial. J Int Soc Sports Nutr. 2011 Apr 7;8:6. (Disponível em : http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3079604/pdf/1550-2783-8-6.pdf)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Devaneios sobre a mensagem pseudo-científica de Gregg Braden

Recebo diariamente dezenas de e-mails totalmente descartáveis que vão desde promoções "imperdíveis" até gigantes mensagens espirituais. Nada contra a tentativa de empresas em divulgar seus produtos e muito menos das pessoas em manifestar suas crenças. Nem me aborreço com isso e até leio muitos desses e-mails para valorizar o trânsito cibernético utilizado. É... SPAMs às vezes atigem seus objetivos.
No entanto, gostaria de falar sobre um e-mail que já recebi várias vezes sobre certos "experimentos científicos" realizados com o DNA provando que há relação direta de vibrações emocionais com a expressão do DNA. É um texto que cita o geólogo norte-americano Gregg Braden, autor de livros de auto-ajuda e que se intitula cientista. Tomo essa mensagem como exemplo para a discussão filosófica necessária que envolve esse tipo de mensagem. Muito mais porque alguém acredita nisso do que pelo fato que a maioria das pessoas não dá a mínima para esse tipo light de fraude.

Em uma abordagem nominalista, este texto tem de tudo para ser escrachado. Não no sentido prerjorativo, pois afinal trata da espiritualidade própria de cada ser humano e, portanto, deve ser respeitada a forma como se atinge esse nível espiritualista. Mesmo quem crê nas baboseiras pseudo-científicas ditas no texto. A saber: experimentos realizados com o DNA extraído de voluntários mostram sua expressão encolhendo-se ou esticando-se conforme o indivíduo fica triste ou alegre mesmo a 80 km de distância. Por essa abordagem, Greg Braden densenvolve uma série de raciocínios sobre o fato que a matéria é um tipo de enregia e propõe que de nos desapeguemos de nossa estrutura material e desenvolvamos mais o lado espiritual, uma vez que o próprio DNA, uma molécula responsável pela vida, responde às vibrações dos sentimentos.

Vamos lá:
1) A expressão do DNA se dá por meio de um processo celular. Ou, seja: para o DNA "se manifestar" de alguma maneira precisa estar dentro de uma célula. Quando se extrai o DNA ele torna-se uma massa amorfa e não tem como observar os resultados nos experimentos ("esticar" ou "encolher").
2) Realmente, tudo é energia. A matéria é energia, mas nem por isso deixa de ser matéria palpável. Isto não prova que somos "espítrito".
3) Fiz uma rápida pesquisa no site internacional de pesquisa em ciência (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) e não encontrei nenhuma referência aos estudos sugeridos (como eu já supseitava).

CONCLUSÃO:
O homem criou Deus e depois criou o mito que foi Deus que o criou. Ou seja, nossa civilização está "acostumada" em criar verdades. Não me estranha, portanto, que muitos pseudo-filósofos modernos pensem em uma tese, acreditem fortemente nisso e passem a tê-la como verdade. O problema é tentar transferir essa verdade para os outros. Comigo, não funciona.

No entanto, achei a mensagem total do texto muito boa. Precisamos nos desapegar de nossa maneira materialista de viver e deslocar nosso pensamento para coisas mais etéreas, como a energia. Na prática, trocar 6 por meia dúzia.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Qual a diferença entre o "farmacêutico generalista" e o farmacêutico-bioquímico?

Na prática, nenhuma.

Segundo o Artigo 3º do parecer CNE/CES 1300/01, ): o farmacêutico generalista atua “em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual, capacitado ao exercício de atividades referentes aos fármacos e aos medicamentos, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle, produção e análise de alimentos” (homologado pela Resolução  02/02 do CNE/SESUde 19 de fevereiro de 2002. DOU de 4 de março de 2002. Seção 1, p. 9; que Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia - disponível em  http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES022002).

Este parecer se apoia na nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, No. 9.394 de 20 de dezembro de 1996: artigos 9o (incisos V, VII, VIII e IX) e 46 e nos Pareceres do CNE/CES 776/97 e 583/2001 que sugerem a adoção de perfil generalista para os cursos de graduação.

Desta forma, todos os currículos de Farmácia aprovados após a instituição da nova LDB têm que se adequar a esse novo perfil generalista. Assim, as habilitações foram extintas em todos os cursos de graduação (inclusive em farmácia) e os farmacêuticos formados a partir da nova LDB são "Farmacêuticos" e podem exercer as análises clínicas e alimentos, desde que seu projeto pedagógico assim o permita e tenha sido aprovado pelo MEC.

O termo "Farmacêutico Generalista", portanto, não existe legalmente, e o termo "Farmacêutico-Bioquímico" foi extinto, permanecendo apenas os já existente correspondentes aos formados nos currículos anteriores às adequações à nova LDB.

Um "problema" (se é que podemos classificá-lo assim) surgiu com a edição da Resolução nº 514 do Conselho Federal de Farmácia (CFF) que 
gerou um mal entendido muito grande dentre os farmacêuticos (disponível em http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/res514_09.pdf).

Esta resolução nº 514 do CFF recriou o título "Farmacêutico-Bioquímico" que passa a ser emitido somente para os Farmacêuticos "generalistas" que realizarem curso de pós-graduação Lato Sensu em Análises Clínicas, porém não determina que somente os portadores deste título possam exercer as análises clínicas. O artigo 3º pode ser mal interpretado quando diz que "Os farmacêuticos, de que trata esta Resolução, terão todos os direitos garantidos para atuarem no exercício das Análises Clínicas, bem como assinar laudos, pareceres técnicos e responsabilizar-se tecnicamente por Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas, como farmacêutico-bioquímico". Contudo, a Resolução não garante que somente o portador deste novo título tenha esse direito. Até porque o CFF não pode legislar sobre assuntos de formação em cursos de graduação, que é de competência do MEC.

Eu, em particular, acho um erro manter uma resolução desta natureza pelo simples fato de possibilitar uma dupla interpretação sobre o âmbito profissional. Porém, a plenária do CFF é soberana e admite que o título é honorífico e visa homenagear os farmacêuticos "generalistas" e manter viva uma tradição... Precisa?

Mas como diz-se nos meios jurídicos: "Dura lex, sed lex" - a lei é dura, mas é lei. Numa interpretação livre: legislação não se discute: cumpre-se e lamenta-se.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Por que é tão difícil controlar a venda de antimicrobianos?

A  RDC 44 publicada pela ANVISA em 2010 trouxe à tona um grande problema da cultura brasileira: a venda de medicamentos sem prescrição médica. No dia 05 de maio de 2011 foi editada a RDC 20 que revogou a RDC 44/2010 e basicamente, mudou o prazo de arquivamento das receitas na farmácia de 05 para 02 anos e estabeleceu que a escrituração deverá ser implementada em seis meses, a partir de agora. O restante está, em essência, mantido.

A RDC 20/2011 mantém a obrigatoriedade da venda de antimicrobianos somente com a apresentação e de receita em duas vias e criou um grande burburinho em toda a sociedade contra isso. Uma das mais frequentes alegações é de que não há médico suficiente em algumas localidades. Outra forte resistência parte dos farmacêuticos que daqui a seis meses serão obrigados a escriturar todas as receitas no complicado sistema on line do Governo, o SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamenteo de Produtos Controlados) nos moldes do que já se faz com os medicamentos controlados pela portaria 344/98.

De fato, a ANVISA reconhece que, atualmente, não tem como garantir o controle da enorme quantidade de antibióticos vendidas mensalmente no Brasil (10 vezes mais que os produtos da 344/98) e é necessária uma adequação no SNGPC e no próprio centro de controle de dados da ANVISA. O prazo de seis meses é mais um oxigênio para que as farmáciasse adequem a esses novos tempos, pois os médicos já são obrigados a prescrever as receitas em duas vias e a população já está lentamente aceitando esta nova exigência. O estranho é que o Governo não disponibiliza nenhuma campanha em massa sobre esse assunto. A divulgação fica por conta da mídia e dos Conselhos Regionais de Farmácia que têm se mostrado à frente das discussões no meio profissional.

A questão mais profunda é a seguinte: não somente os antibióticos mas TODOS os medicamentos tarjados deveriam ser vendido somente com a apresentação de receita médica. O problema é cultural e não somente administrativo. Não seria necessário esse controle exagerado sobre os antimicrobianos se os cidadãos fossem educados para não se automedicarem.

Mas isso é coisa de país desenvolvido, né. Nossa cultura de sempre-estar-atrás-dos-outos não nos permite dar um passo sem uma legislação para nos por no caminho certo. É uma pena. Ou não?

O fato é que enquanto não houver um trabalho dos farmacêuticos e médicos junto à sociedade sobre a necessidade da venda de medicamentos unica e exclusivamente sobre orientação de um profissional qualificado, ficaremos, verdadeiramente, sempre para trás.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Isobutanol: uma promessa de biocombustível proveniente da celulose

Cientístas da Universidade da Califórnia e do Laboratório Nacional de Oak Range desenvolveram bactérias manipuladas geneticamente para converter celulose em isobutanol, um combustível tão potente quanto o etanol e a gasolina mas com a vantagem de ser produzido de biomassa simples, como o capim. O único incoveniente é que, nos testes preliminares, o isobutanol danificou algumas partes dos motores que precisaram ser modificados para melhorar a performance.

Porém, essa é uma prova que o futuro dos biocombustíveis está sendo escrito lentamente e acena  para a probabilidade dos automóveis atuais movidos a combustível fóssil (p.ex.: diesel e gasolina) perdurem por bem mais tempo do que se imagina. Isso é bom por um lado, mas péssimo por outro uma vez que é sabido que esse tipo de motor piora enormemente a qualidade do meio ambiente.

Parece que o modelo de ficção científica usando carros elétricos e solares vai ter que esperar mais um bocado.

Para saber mais:
http://tinyurl.com/3stt8pw

terça-feira, 26 de abril de 2011

Fome! Fome? Passou a fome!

Sabe aquela fome isuportável que bate lá pelas 10h quando você sai de casa sem tomar o café da manhã, mas que simplesmente desaparece se você não almoça? Absurdo? Não! É mais uma mirabolante reação fisiológica para manter o equilíbrio orgânico.

É o GLUCAGON entrando em ação. Esse hormônio é liberado em altas taxas quando o indivíduo entra em hipoglicemia. Uma de suas principais ações é bloquear a enzima responsável pela síntese de glicogênio (glicogênio sintase) e ativar a enzima resposável pela degradação do glicogênio (glicogênio fosforilase) e liberação da glicose hepática para o sangue (gligose-6-fosfatase). O glucagon também promove a neoglicogênese ativando enzimas que convertem amimnoácidos e outras moléculas (p.ex.: lactato e piruvato) em glicose.

Desta forma, depois de um período de fome intensa, o glucagon promove uma enxurrada de glicose no sangue que faz com que, provisoriamente, a sensação de fome diminua.

Esse efeito não dura muito, pois logo as reservas de glicogênio são exauridas e a disponibilidade de glicose fica cada vez menor. Convém lembrar que somente o glicogênio hepático libera glicose para o sangue, uma vez que os músculos não possui a glicose-6-fosfatase, ficando a glicose retida unicamente para o metabolismo muscular. Outro efeito do glucagon é inibir a síntese de lipídios a partir de glicose e estimular sua degradação o que garante que essa "nova glicose" não seja destinada às reservas dos adipócitos.

Pioglitazona, um medicamento candidato à prevenção da Diabetes Mellitus

A Diabetes Mellitus (DM) é uma das doenças metabólicas mais estudadas, porém até hoje não se conhece uma forma eficaz de previnir o surgimento da doença, uma vez que possui uma forte influência de vários tipos de mutações presentes em diferentes genes, presentes em combinações prórpias para cada indivíduos, gerando perfis genéticos distintos entre as populações.

Entretanto, recentemente, pesquisadores da Universidade do Texas desenvolveram estudos com a Pioglitazona, um medicamento já utilizado no tratamento da DM, agora evidenciando a possibilidade de retardar os sintomas em indivíduos que seja conhecido o perfil genético para desenvolver a doença.

Resta aguardar a eficácia dos testes clínicos para aber se trata de mais um round vencido pela ciência na luta contra essa doença milenar.

Saiba Mais:
http://tinyurl.com/4ytddgu

Refrigerante de Maconha

A empresa norte-americana que produz os famosos refrigerantes Dr. Pepper irá lançar no mercado a  "Canna-cola",  que promete ter até 65mg de THC (tetra-hidro-canabinol, o princípio ativo da maconha).
Como a dosagem terapêutica de THC permitida em vários estados dos EUA é 25mg, essa bebida promete ter leve efeito alucinógeno, mas ainda assim com teores permitidos pela legislação norte-americana.

Se essa moda pega, hein?

Leia Mais em Jornal da CIência:

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Mutações no receptor de LDL nem sempre causam hipercolesterolemia

As formas mais graves de aumento do colesterol sanguíneo (hipercolesterolemia) induzido por causa genética ocorre em cerca de 1 em cada 1.000.000 de indivíduos. Esta doença, denominada hipercolesteloremia familiar (HF), possui uma forma mais comum e mais branda observada em indivíduos heterozigotos para a doença, ocorrendo em cerca de 1 em cada 500 indivíduos.
Em ambos os casos, uma mutação no gene do receptor do LDL (LDLR) é a principal causa e já são descritas mais 1.000 mutações diferentes em indivíduos no mundo inteiro.
No entanto, algumas dessas mutações são muito comuns mas não induzem hipercolesterolemia significativa nos indivíduos mutante. É o caso da mutação A370T, denominada de polimorfismo StuI em virtude de ser identificada com o uso da enzima de restrição StuI. Em estudo realizado pela Universidade Federal do Pará e a University College London em mais de 2500 indivíduos britânicos, a presença da mutação não favoreceu a hipercolesterolemia nem a ocorrência de doença cardiovascular durante cinco anos de acompanhamento dos pacientes.
Esses resultados apontam para o fato que a identificação de mutação em genes importantes para o metabolismo do colesterol nem sempre indicam a obrigatoriedade da ocorrência da doença.

Leia mais:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1469-1809.2006.00294.x/pdf

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Peptídeos podem ser sintetizados sem utilizar ribossomos

Um dos grandes paradigmas da bioquímica é que a síntese protéica depende da existência de ribossomos para que os aminoácidos sejam unidos para formar a proteína. Esse conceito persistiu até o final do século XX quando foram descobertos fungos e bactérias que produzem peptídeos por um mecanismo alternativo. Esse achado  abre caminho para o desenvolvimento de novas tecnologias com aplicações médicas, industriais e agrícolas.

FONTE: Revista Ciência Hoje, ed. 279

Saiba mais no Website da Revista Ciência Hoje. Cadastra-se gratuitamente para poder baixar os arquivos em PDF.
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2011/279

Farmacêutico pode coletar sangue arterial?

Não há nenhuma legislação que limite a competência para a coleta de material biológico, qualquer profissional de saúde poderá exercer esta atividade desde que devidamente habilitado (Enfermeiro, Biomédico, Médico e Farmacêutico) e seus auxiliares (técnico de enfermagem e técnico de laboratório) sob a responsabilidade de um profissional de nível superior (ver parecer do COREN-MS disponível em http://www.corenms.com.br/legislacao.php?categoria=4&id=44)

Dentro deste ponto de vista, a Resoluçãodo Conselho Federal de Farmácia no. 361 de 18 de novembro de 2000 (disponível em http://www.cff.org.br/userfiles/file/resolucoes/361.pdf), estipula:
"Art. 1º - São atribuições do Farmacêutico Bioquímico proceder a punção venosa e a punção arterial nos pacientes atendidos em Laboratórios de Análises Clínicas."

Entendendo-se por Farmacêutico Bioquímico aquele formado no Currículo antigo de farmácia com habilitação em Análises Clínicas e os novos Farmacêuticos "generalistas”.

A polêmica proibição da venda da Sibutramina no Brasil

Sou contra a proibição, porém a favor do rígido controle. Como todo medicamento, a sibutramina possui reações adversas que precisam ser monitoradas pelo médico prescritor. Porém, assim como todo medicamento, as indicações são restritas a pacientes que tenham um determinado perfil clínico que devem ser cuidadosamente seguidas para minimizar as reações adversas. A sibutramina é um anorexígeno que age no sistema nervoso central e por isso precisa ter sua prescrição controlada, porém ela faz parte de uma nova categoria de medicamentos que precisam ser melhores estudadas pois prometem ser superiores na eficácia na redução de peso, desde que observadas os critérios para a indicação.

A sibutramina inibe a vontade de comer e aumenta a saciedade, além de ter uma ação adicional em diminuir o gasto energético que acompanha a perda de peso, coisa que os demais anorexígenos não fazem. Uma importante observação é que o uso é indicado para pacientes obesos ou sobrepeso que estejam realizando atividades físicas como complemento terapêutico. A prescrição em pacientes sedentários não tem demonstrado eficácia superior aos demais anorexígenos. O tempo de tratamento não deve superar 60 dias.

Como a maioria dos medicamentos, sempre há uma quantidade maior de contra-indicações do que indicações. Somente o médico poderá avaliar os riscos que o paciente deve se submeter durante o tratamento. De maneira geral, a sibutramina está contraindicada em paciente que apresente reação alérgica ao medicamento, não pode ser utilizada conjuntamente com bebidas alcoólicas e por mulheres grávidas ou amamentando. Também, seu uso não deve ser indicado para pacientes diabéticos, hipertensos ou com doenças cardio e cerebrovasculares. Não deve ser indicada para pacientes com história clínica de bulimia e aqueles que façam uso de antidepressivos. Como se vê, as contra-indicações são bem específicas e um médico especialista irá indicar o medicamento somente quando houver segurança em sua prescrição.

Não há relação direta entre a proibição de um medicamento em um determinado país com a obrigatoriedade de proibição em todo o mundo. As razões da proibição, em alguns países, muitas vezes estão relacionadas a motivos peculiares das políticas de saúde daquele país que não são, necessariamente, as mesmas do nosso, e vice-versa.

Vejam o caso da dipirona que é proibida nos EUA e em vários países Europeus para venda em farmácias, porém é um dos analgésicos mais populares e eficazes utilizados no Brasil e em vários outros. Não há estudos que confirmem que no Brasil os pacientes que usam dipirona sofram mais as reações adversas (p.ex.: aplasia medular) do que nos países que a proíbem.

Voltando à sibutramina, é um medicamento recente que ainda não se tem como avaliar se os benefícios são menores em relação aos malefícios. Isso, ao meu ver, não é motivo para se proibir o medicamento, mas sugere que um controle rígido do medicamento deva ser priorizado. No Brasil o sistema de controle de medicamentos como a sibutramina é um dos mais sofisticados do mundo onde o farmacêutico registra on line as receitas dispensadas na farmácia, diariamente, nos bancos de dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) da ANVISA. Com esse poderoso banco de dados, a ANVISA pode ter o controle de quem prescreve, de quem consome e de quem vende o medicamento possibilitando ações de vigilância sanitária mais precisas.

Nenhum medicamento é seguro se é utilizado de maneira irracional. Os demais medicamentos anorexígenos possuem tantas ou maiores restrições ao seu uso. Somente a prescrição responsável da sibutramina e de qualquer outro anorexígeno e o seu controle pelos farmacêuticos no que diz respeito à dispensação e orientação da comunidade é que pode garantir a segurança não somente desses medicamentos, mas de todo e qualquer medicamento.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Quando é vantajoso ter uma mutação? O exemplo da G6PD.

A evolução das espécies, no modelo Darwniano, frequentemente é mal entendida como a seleção dos "melhores" de uma espécie, ou dos "sobreviventes". Essa "lei da selva" onde o mais forte é o vencendor fica legal em filmes de ficção científica e romances de aventura, mas na vida real parece que não é bem assim que acontece.


A presença de mutações em genes pontuais que geram a formação de um indivíduo que possua certa vantagem adaptativa ao meio ambiente em relação aos não portadores da mutação, tem sido colocada em evidência em muitos estudos moleculares sobre a evolução das moléculas e das espécies.


Dentro desse ponto de vista, mutações que geram doenças também podem estar relacionadas a uma melhor adaptação dos mutantes ao meio ambiente. É o caso da deficiência da enzima G6PD (glicose-6-fosfato-desidrogenase) que atua em um desvio da via glicolítica permitindo a formação de um transportador de elétrons (NADPH) que garante a formação de um poderoso sistema antioxidante nas hemácias graças à formação da enzima GSH (glutasiona redutase), fundamental para o transporte de oxigênio nas hemácias.


Assim, indivíduos mutantes da G6PD perdem essa capacidate antioxidante e a hemácia acumula uma quantidade absurda de hemoglobina oxidada irreversivelmente (meta-hemoglobina) que não possui a capacidade de oxigenar os tecidos e induz hemólise severa e muitas vezes fatal, principalmente quando sob tratamento por certos medicamentos.


No entanto, esses mutantes, pasmem, são resistentes à infecção por protozoários do gênero Plasmodium causadores da malária justamente porque esse parasita não pode se reproduzir em um ambiente de baixa oxigenação. Assim, em regiões tropicais endêmica para a malária, indivíduos mutantes passam a ter uma certa proteção contra a malária o que faz com que se adaptem mais facilmente do que os indivíduos não mutantes.


APRENDA MAIS:
http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v37n3/20297.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2749581/pdf/i0003-3006-56-3-86.pdf
http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v28n2/v28n2a14.pdf

quarta-feira, 30 de março de 2011

Urina ácida pode estar relacionada com síndrome metabólica e obesidade

A cada dia, pesquisadores no mundo todo investigam marcadores bioquímicos para estabelecer uma possível relação de diagnóstico laboratorial de alterações relacionadas com a obesidade e a síndrome metabólica, um passo importante no diagnóstico precoce da diabetes mellitus (DM).


A síndrome metabólica consiste na presença de algumas alterações laboratoriais e clínicas (p.ex.: baixo HDL, triglicerídeos elevados, alto IMC, hipertensão arterial) e é senso comum que um grande percentual de pacientes com síndrome metabólica desenvolverão DM em um prazo de até 10 anos.


No último dia 25 de março de 2011, pesquisadores da Universidade de Osaka no Japão, publicaram estudo onde chegaram à conclusão que quanto menor o pH urinário, maior a possibilidade da existência de síndrome metabólica e, portanto, um risco aumentado para DM.


É isso aí. Uma análise tão banal como a determinação do pH urinário pode ter grande valia no acompanhamento de pacientes portadores de síndrome metabólica.


Leia: http://www.jstage.jst.go.jp/article/endocrj/advpub/0/1103040543/_pdf

terça-feira, 29 de março de 2011

Hipoglicemia de rebote

Já ouviram falar de pessoas que têm episódios de tontura, enjoo, vômitos (às vezes) logo após uma ingestão de grandes porções de carboidratos, principalmente quando realizam exercícios físicos? Pois é, essa é a "hipoglicemia de rebote" uma impressionante resposta do organismo a uma ingestão generosa de glicose fazendo com que o indivíduo fique hipoglicêmico! Parece estranho, não? Mas é assim mesmo... Quanto mais glicose se ingere o pâncreas produz mais insulina em resposta. Desta forma, quando há uma ingestão súbita de glicose, o pâncreas tende a produzir uma quantidade extra de insulina. Por sua vez, o aumento da insulina no sangue produz a rápida queda da glicose levando a uma hipoglicemia transitória. Esse efeito é acentuado quando o indivíduo realiza exercícios físicos o que promove mais ainda a captação de glicose pelos músculos.


É comum observar crianças que, após uma alimentação rica em carboidratos (p ex.: festas de aniversário, hora do recreio) e começam a brincar corremndo em excesso, desenvolvem esse quadro, assustando pais e professores menos avisados.


A glicemia de rebote pode ser observada, também, em pacientes logo após a realização de cirurgia bariátrica, pois passam a ingerir alimentos unicamente na forma pastosa e líquida, mais rapidamente digeridas e absorvidas.Quando esses pacientes exageram na quantidade de carboidratos e realizam um exercício físico também exagerado para sua condição (p.ex.: subir uma escada muito alta, caminhada um pouco mais longa) a hipoglicemia de rebote pode ocorrer.


A hipoglicemia de rebote é de difícil compreensão por parte de leigos que não entendem a afirmação que desenvolveram hipoglicemia justamente por comer açúcar demais! Confessemos, é difícil mesmo de aceitar essas coisas paradoxais do mundo da bioquímica, não?


Saiba mais: www.scielo.br/pdf/rbme/v12n4/05.pdf


Um abraço.